5 de novembro de 2011

Congelei a cena. Mas nada mudou. Foram as mesmas faltas, a mesmas dores, o mesmo de sempre, aquela chatisse dia após dia. Eu queria um barco, só pra mim, que fosse pra bem longe. Mas longe mesmo. Onde ninguem nunca habitou. Eu não queria ver nada que me fizesse voltar a crer que existe vida lá fora. Nenhuma pessoa, nenhuma voz, nenhum animal, nenhum som, nenhum arranha-céu até a linha do mar com o horizonte. Queria névoa forte, neblina, invisibilidade total ou parcial do que há por vir. Só queria a minha vida, ali, largada pelo desconhecido, deitada sobre o chão, coberta por qualquer jornal. Eu já tive um pássaro na mão, dois voando e os três ao mesmo tempo em seus devidos lugares. Eu já tive a tal da vida comum, preenchida de coisas vazias, inanimadas, sem vida. Eu já fui cheio de vícios, amor, vida, esperança, compaixão, cheio de piedade e amizade. Agora eu estou cheio de tudo isso. Não acredito mais em nada e em ninguém. Eu não consigo mais acreditar na reversão das coisas. Eu tenho estado assim, desconfiado do mundo. Sem esperança, sem razão, com um grito preso em minha garganta e uma metralhadora de palavras apontadas para o ouvido de alguém mais surdo que eu. Dê-me a dose letal de meu próprio veneno, deixe-me morrer sozinho, pois não quero arruinar a ninguém mais senão a mim. Estou ficando louco? Talvez.

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